O ano era 2018, eu estava grávida do meu primeiro filho, Nathan, e assim como a grande maioria das mulheres da minha geração havia sempre estudado e me preparado muito para minha vida acadêmica e profissional. Naquele ano trabalhava no Serviço Público Federal, uma posição que sempre havia desejado e sonhado muito desde o início da minha faculdade e primeiras experiências de trabalho. O serviço público sempre representou muito para mim com a estabilidade profissional, os benefícios decorrentes deste tipo de trabalho, a previsibilidade do ambiente laborativo.
Eu sempre havia me imaginado na vida adulta trabalhando no ambiente público, casada e criando meus filhos. Agora que estava esperando meu primeiro bebê senti o desejo de aprender mais e me preparar para essa nova etapa da vida familiar. Ouvi falar de um curso para gestantes e imaginei que pudesse ser interessante participar.
Em março daquele ano, eu e meu esposo Eliabe, procuramos os contatos, nos inscrevemos e começamos o respectivo curso. Logo na primeira aula me emocionei quando vi o presente que o Senhor havia preparado para nós, sobre tantas coisas que envolveriam a chegada de um bebê na nossa casa, no nosso casamento e na nossa vida.
Da mesma forma já foi abordado o assunto do sono do bebê nestes primeiros meses de vida, os cuidados com essa nova vida, amamentação e outras questões práticas de se ter um recém-nascido em casa. Além de tudo isso nossa professora atuava profissionalmente como Consultora de Sono Materno-Infantil, então tinha muita bagagem teórica e prática para compartilhar conosco.
Fiquei muito empolgada e cheia de expectativas com o que estava aprendendo, lembro que fui neste embalo comentar com algumas amigas que já eram mães e ouvi comentários de desdém sobre o assunto, que eu ainda não tinha noção do me aguardava e que os bebês simplesmente não dormem. Percebi que deveria guardar meu coração e conter meus comentários, aguardando simplesmente viver minha primeira experiência com a chegada do meu bebê.
Nathan nasceu em setembro e com ele um novo mundo descortinou-se na minha frente. É chocante a realidade de saber que uma pequena vida depende totalmente de você para ser nutrida, protegida e cuidada. Cada dia fui vivendo novas experiências e vivendo intensamente tudo que a vida exigia de mim neste momento.
Algo que me ajudou muito foi a consciência de que o puerpério era o período de maior delicadeza e que dia após dia as coisas melhorariam, contava no calendário quando os 40 dias se encerrariam. Percebi que minhas emoções oscilavam muito, entre picos de satisfação e vales de incerteza. Percebi que não podia fazer consultas na internet sobre algum possível sintoma de doença do bebê, criava pânico dentro de mim. Que os barulhinhos e choros dele causavam todo tipo de emoções no meu coração. Enfim esse assunto rende muito pano para manga.
À medida que as semanas se passavam o Nathan estava com a amamentação mais estabilizada, ganhando peso, mamando no ritmo dele. As coisas foram ficando mais previsíveis para mim também. Sempre fui aplicando as orientações que tinha recebido e via como elas me davam mais segurança e tranquilidade de que estava no caminho certo.
Quando meu bebê completou umas 12 semanas (cerca de 3 meses de vida), as mamadas na madrugada foram se fundindo. Antes eram as 01 horas e 04 horas, agora estavam em apenas uma em torno das 3 horas. Gradativamente ele começou a estender seus períodos de sono noturno para 6 horas, depois 7 horas, até alcançar aos 3 meses muitas noites com 8 horas de sono. Nos próximos meses ele se manteve fazendo 10 a 11 horas de sono noturno, com somente a mamada dos sonhos em torno das 22 horas, que posteriormente também foi excluída.
Sendo que até hoje, com 6 anos, é a média de sono dele a noite entre 10 a 11 horas de sono contínuo.
Claro, que o processo de muitas semanas e meses, eu resumi em apenas um parágrafo. Porém eu e meu esposo observávamos impressionados como o sono dele ia naturalmente sendo ajustado diante dos nossos olhos. Ele conseguia adormecer com facilidade, fazia boas mamadas, no início das noites fazíamos todo o ritual noturno (com o tempinho juntos, banho, troca, mamadas e o levar para o seu bercinho).
Ficamos chocados e comentávamos sobre esse assunto com qualquer pessoa que estivesse disposta a nos ouvir, como esse tema do Sono e entender as necessidades do bebê havia nos abençoado. Apesar de todos os desafios que cercam essa nova fase, conseguimos aproveitar o primeiro ano do nosso bebê.
Para isso nunca precisei deixar meu bebê chorando, ou privá-lo de carinho, aconchego ou amor. Foram precisamente informações objetivas que nos deram entendimento de como nos ajustar nessa fase. Como cuidar do bebê, me recuperar da gestação, parto e puerpério. Manter nosso casamento ajustado com a chegada de mais um membro em nossa família.
Quando o Nathan estava com 06 meses e eu em processo de retomar as atividades do trabalho me vi inquieta, com organização de remoção no trabalho para um local mais perto de casa, como ficaria minha carga horária, em que escola no Nathan ficaria e todas essas novas adaptações.
Lembro que procurei minha professora do curso de bebês, que agora era minha amiga também, e narrei minha circunstância atual. Uma pergunta foi o divisor de águas para mim: “Ana, o que te dá Paz?” e eu respondi “Olha, eu não me importaria de ficar em casa com o meu filho neste momento”. Vi que essa era a direção do Senhor para mim nesta nova fase. Conversei com meu esposo, ele se mostrou relutante no começo pela renda da qual abriríamos mão e oramos a respeito. Posteriormente ambos entendemos que seria a melhor decisão para aquele momento.
Quando o Nathan estava com 1 ano eu engravidei novamente, certamente a experiência que tínhamos tido com o primeiro filho e com o sono dele nos impulsionou novamente para viver a chegada de mais um filho. Eu sempre desejei ter filhos com idades próximas para que eles pudessem crescer juntos e viver experiências que fortalecessem o vínculo e a amizade entre eles. Financeiramente jamais caberia mais um bebê em nosso orçamento, mas depositei minha confiança no Senhor, de que Ele continuaria cuidando de nós, como tinha sido até aquele momento.
Fiz novamente o curso dos bebês, me habilitei como líder, pois ele era ministrado na forma de pequenos grupos. A partir daí já comecei a ajudar uma amiga aqui, outra ali, e muitos bebês e seu sono começaram a surgir na minha vida.
Em 2020 fomos surpreendidos com a pandemia e novos desafios vieram com os cuidados e restrições, Gabriel nasceu em Agosto cheio de saúde e vida para preencher nossos corações com mais amor e muita dedicação também.
Durante esse período todo sempre fui me aprofundando mais no assunto do Sono Infantil, estudando, lendo inúmeros livros e praticando ativamente com meus dois pequenos. Muitas famílias surgiram em meu caminho e pude acompanhá-las também na chegada dos seus bebês e todos os ajustes que vem junto.
Por incentivo da minha amiga que trabalhava com Consultoria de Sono Infantil em Joinville e havia migrado de área para atender outras demandas, eu que já havia estudado e praticado muito as questões relacionadas ao sono de bebês, pude me especializar e obter formações acadêmicas nesse universo da Neurociência do Sono Infantil e do Aconselhamento Familiar
Pois quando tratamos do sono do bebê, existem tantos outros aspectos da vida familiar que estão relacionados. Como uma mãe que as vezes já se encontra adoecida pela privação de sono continuada, adaptações com retorno ao trabalho, um casamento que foi abalado por todas as mudanças e desafios que surgiram, questões do nosso coração que passam a emergir pelos desafios emocionais de cuidarmos do nosso bebê, enfim.
A primeira família que atendi profissionalmente foi de um casal de Médicos de outro Estado, que chegou a mim por uma indicação, uma grande honra e responsabilidade para mim. Acompanhei muitas famílias da minha cidade de Joinville/SC e outras regiões do meu estado, de outros lugares do Brasil e até de outros Países. E assim tem sido, conheci muitas famílias, muitos contextos e muitos desafios diferentes que podem ser gerados por um bebê que não consegue dormir suficientemente.
Tive em 2024 meu terceiro filho, Samuel, e o privilégio de acompanhar os bebês, orientar as mamães e também praticar novamente com meu pequenino tantas coisas que os conduzem a um bom soninho.
Samuel, com 2 meses de vida, eliminou as mamadas da madrugada e passou a ter mais de 8h de sono contínuo, que foram progredindo com o passar dos meses. Vivi novos desafios, com um bebê mais doente pelos vírus que os próprios irmãos traziam para casa, internação, otite, dentição, saltos de desenvolvimento, viagens e todas aquelas coisas que deixam as mamães de cabelo em pé.
Por isso tenho certeza do que faço, deste trabalho, pois estudei na teoria, aprofundei na literatura e tenho praticado por tantos anos em meu lar que daria uma nova graduação (risos). Conheço na pele as incertezas, os medos, as noites difíceis e trabalho de coração para ajudar os pais nessa jornada.
Sei também que é real, um bebê dormir bem. Ter 3 filhos pequenos dormindo bem e juntos no seu próprio quarto. Um casamento que cresceu junto, trabalhou, e trabalha, como equipe. Tudo isso por uma direção de Deus para minha vida, por informações e conhecimentos científicos e empíricos, que quando colocados em prática geram alegria e qualidade de vida para toda uma família.